Bom, eu acabei de ver o filme “Che, o Argentino”, que obviamente é sobre o caboclo que foi um dos mais importantes na revolução cubana. Aliás, desculpem o título super mega batido, mas ainda estou contagiado pelo filme muito bom. Tá, mas eu não resolvi perder parte do tempo de meu sono pra falar sobre filmes e sim sobre a idéia de revolução que sempre reverbera em minha vasta cabeça nordestina e acredito que na de vários outros colegas e não-colegas mundo afora.
Numa época, fui quase que forçado a ministrar uma disciplina de licenciatura (alguma dessas “prática e vivência de ensino” da vida), porém era um bacharel que nunca tinha pisado numa sala de aula na vida. “Mais uma merda no nosso sistema falido de ensino” pensaria eu se ouvisse tal história de uma boca externa, e foi baseado nessa lógica que um medo fabuloso de não satisfazer meu patrono com bons resultados e meus alunos com conhecimentos sólidos, que adentrei num processo voraz de apurrinhamento de outros professores e de leituras sobre ensino.
Nessa odisséia, me deparei com o tal do Paulo Freire e seu “Pedagogia do Oprimido”. Das várias coisas legais que existem ali, uma pareceu desencadear aquelas revisões profundas em uma rede de conceitos formadores de minha forma de pensar e que me norteia fortemente em meus atuais objetivos, megalomaníacos ou não: a diferença entre revolucionário e reacionário. Bueno, botando meu resumo e tirando a beleza da descrição de Paulo Freire, a idéia da coisa é que nós essencialmente vivemos num mundo onde reagimos aos estímulos, bons ou maus, de uma forma comum e padrão, independente de sermos os oprimidos ou opressores. Exemplificando, digamos que os Azuis estão no poder e eles são seres cruéis que oprimem os Vermelhos. Um dia, os Vermelhos tomam o poder e apesar de terem uma visão diferente das coisas, continuam oprimindo os Azuis através dos mesmos mecanismos que eram a eles aplicados em outro momento. Isso é reação.
Esse padrão de reagir aos acontecimentos, meio que como aquela lei da Física, “com a mesma intensidade e em sentido oposto”, apesar de fazer as coisas aparentemente mudarem, só perpetuam os mesmos vícios em diferentes lados, criando ciclos muy destrutivos. E, apesar do texto ter toda essa conotação política, esse ciclo reacionário se aplica em todas as esferas da nossa vida, desde o meio ambiente (protecionistas vs. desenvolvimentistas), música (nao vou citar exemplos pra nao dar briga), religião (ateus vs. radicais), raciais (negros vs. brancos), etc etc. Pelas análises que fiz de mim e do que me cerca, tendemos sempre a “reagir” ao que nos agride e aí que mora a grande cagada da história.
Revolução não é colocar no poder (qualquer que seja o poder em pauta) um grupo diferente que segue em sua essência os mesmos mecanismos de domínio, mas com um discurso próprio. Revolucionar é algo muito trabalhoso, que nos demanda reflexões constantes de nossos pré-conceitos e de como eles nos fazem reagir de forma essencialmente igual, mas em sentido oposto ao nosso “opressor”, e de como isso é negativo. Para nós, que buscamos a revolução que finde com todas essas fuleragens que estamos cansados de assistir, ouvir, participar ou se abster, a essência não é pensar em se devemos ser da direita ou da esquerda, gays ou heteros, castas(os) ou putas(os), do brega ou do metal. A grande ideia de revolucionar é exatamente despir de toda essa preconceituação entranhada, apertar o reset e buscar entender como fazer pra que dentro desse sistema em que vivemos, consigamos alterar a forma humana de nos relacionar para algo que foge completamente de todos esses padrões que na verdade não são nada mais que os diferentes “lados” do espelho refletindo o mesmo objeto.
-Tá, e agora?
- E agora? Me chama pruma cerveja que a gente continua esse papo