11/09/2011

Velhos Contos do Feirante (Abscoriado pelo Destino)


Outro dia andava pela calçada e vi do outro lado da rua uma batata grande e gorda, daquelas com trejeitos de condessa. Ela, que caminhava formosa, ao perceber meu olhar mirou um dos seus vários olhos e com outro localizado na altura do joelho piscou. Sem estar esperando tal investida, desconcertei, avermelhei porém mantive a postura diante de tão nobre tubérculo e resolvi me aproximar. Ela pareceu ter a mesma idéia e começou a rolar em minha direção de maneira deveras elegante. Meu coração palpitava de ansiedade em imaginar o fruto de tal aproximação e do belo e saudável futuro que esse encontro poderia acarretar. Mas em meio a travessia, a nobre e robusta batata, que apesar dos olhos encantadores, manchas bem feitas e pêlos sedosos, não era dotada da malícia de um habitante da cidade e em meio ao tráfego caótico, ouço um grito, que ao se esvair, atraindo a atenção de todos que ali estavam presentes, levou também meu belo sonho de futuro com tão fresca amante... um caminhão de tomates desgovernado atropelara e espragatara minha deusa subterrânea dilacerando meu coração. Então parti maldizendo a vida e letargicamente me recuperei de tão intensa e breve paixão eterna.

o Feirante

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